“Ainda há ódio ao Bolsa Família na classe média”, afirma socióloga da Unicamp
Em novo livro, pesquisadores revelam como a pobreza rouba não apenas bens materiais, mas também a infância, a esperança e o senso de pertencimentoA pobreza no Brasil vai além da privação material: ela afeta a dignidade, mina a autoestima e sufoca sonhos desde a infância.
É o que mostra Vidas Roubadas, novo livro dos professores Alessandro Pinzani (UFSC) e Walquiria Leão Rego (Unicamp), publicado pela Editora Unesp.
Inspirado em depoimentos de moradores da serra do Cariri, no Ceará, o livro parte de histórias reais para refletir sobre o impacto da miséria na formação humana e na democracia brasileira.
Um dos relatos mais marcantes é o de uma mulher que, ainda criança, só conseguia brincar escondida, enquanto cuidava das cabras da família.
Os detalhes da pesquisa
Na obra, os autores entrevistam cinco mulheres e um homem em situação de extrema pobreza.
As conversas ocorreram em localidades marcadas pelo abandono estatal e revelam um sofrimento social profundo, uma dor coletiva que, segundo os pesquisadores, poderia ser evitada com políticas públicas eficazes.
Walquiria Leão Rego, socióloga e uma das autoras, destaca que a ausência do Estado, aliada à humilhação cotidiana, impede qualquer construção de cidadania ou senso de protagonismo político.
“A política, para elas, é algo abstrato. A precarização é tão intensa que não há espaço para formar uma subjetividade esperançosa”, afirma.
Onde entra o Bolsa Família nessa história
Leão Rego também retoma um tema já explorado em obras anteriores: a reação da classe média ao Bolsa Família.
Segundo ela, ainda hoje há resistência e até “ódio” por parte de setores médios da sociedade ao programa, apesar de sua eficácia comprovada no combate à pobreza.
A socióloga argumenta que o preconceito contra os beneficiários do programa revela uma visão elitista e desinformada sobre o que é viver em vulnerabilidade no Brasil.
Entendendo o Bolsa Família
O Bolsa Família é o maior programa de transferência de renda do país. Dados oficiais indicam que pouco mais de 20 milhões de pessoa estão aptas ao recebimento do benefício neste mês de julho, por exemplo.
Para ter direito ao Bolsa Família, o cidadão precisa ter uma conta ativa e atualizada no sistema do Cadúnico do governo federal. Além disso, também é importante ter uma renda per capita de até R$ 218.
O valor base do Bolsa Família neste ano de 2025 é de R$ 600. Mas este patamar pode ser elevado a depender da quantidade de benefícios internos a que cada família tem direito.
Veja abaixo os adicionais que estão sendo pagos neste momento:
- Benefício de Renda de Cidadania (BRC): R$ 142 por pessoa da família;
- Benefício Complementar (BCO): valor adicional para garantir um total mínimo de R$ 600 por família;
- Benefício Primeira Infância (BPI): acréscimo de R$ 150 por criança de 0 a 7 anos;
- Benefício Variável Familiar (BVF): acréscimo de R$ 50 para gestantes e crianças de 7 a 18 anos;.Benefício Variável Familiar Nutriz (BVN): acréscimo de R$ 50 por membro da família com até sete meses de idade (nutriz);