Bolsa Família do Japão? Programa que ampara idosos brasileiros vira alvo de polêmica
Programa japonês semelhante ao Bolsa Família garante sobrevivência de idosos brasileiros, mas enfrenta críticas e preconceitoMuitos brasileiros sonham em garantir tranquilidade na velhice após décadas de trabalho.
Mas para quem vive no Japão, essa realidade pode ser bem diferente e, às vezes, só é possível graças a um benefício social que, de certa forma, lembra o Bolsa Família brasileiro.
É o caso de Yoshio, paulista de 80 anos, que passou mais de três décadas em fábricas japonesas.
Após um acidente de bicicleta, todas as suas economias foram consumidas por custos hospitalares. Sem direito à aposentadoria, por nunca ter contribuído para o sistema previdenciário japonês, ele se viu sem saída.
A solução veio por meio do Seikatsu Hogo, programa de assistência voltado a pessoas em situação de vulnerabilidade.
Estrangeiros e resistência social
Apesar de salvar vidas, o benefício é constantemente alvo de críticas. Muitos japoneses acusam, sem provas, que estrangeiros abusam do sistema.
Durante as últimas eleições parlamentares, circularam nas redes sociais dados falsos, como a alegação de que 33% dos beneficiários seriam imigrantes.
Os números oficiais, no entanto, desmentem a narrativa: apenas 2,9% das famílias atendidas em 2023 eram de estrangeiros, ou seja, um total de 45.973, dentro de um universo de 1,65 milhão de domicílios beneficiados.
O peso da história no Bolsa Família
Alguns grupos têm maior dependência por questões históricas, como os descendentes de coreanos que migraram antes da Segunda Guerra Mundial e permaneceram no país.
Sem acesso à aposentadoria, muitos envelheceram sem qualquer rede de apoio. Ainda assim, acabam sendo usados como alvo de discursos xenofóbicos em um Japão onde mais de 30% da população já ultrapassou os 65 anos.
“É essencial basear o debate em dados, não em fake news”, alerta o professor Edson Urano, especialista em Políticas Públicas Internacionais.
Brasileiros e o dilema do Bolsa Família
Atualmente, mais de 3 milhões de estrangeiros vivem no Japão. Os brasileiros representam cerca de 5,6% desse total.
Muitos chegaram nos anos 1990 e agora se aproximam da aposentadoria, mas grande parte não contribuiu para o sistema local.
O acordo previdenciário entre Brasil e Japão, assinado em 2010, permite somar tempo de contribuição nos dois países. Porém, milhares de imigrantes não se inscreveram em nenhum dos sistemas por falta de informação.
Isso deixa casos como o de Antonio, de 78 anos, em situação de extrema vulnerabilidade.
Depois de quase 30 anos em fábricas, ele descobriu tarde demais que não tinha direito a benefícios. Hoje, sobrevive com ajuda do Seikatsu Hogo, ao lado da esposa colombiana.
O valor médio do benefício é de 100 mil ienes por mês, o que equivale a pouco mais de dois salários mínimos no Brasil. Mesmo assim, o casal precisa cortar despesas e conta com a solidariedade da comunidade para seguir em frente.