Da aposta ao vício: como bets estão levando usuários do Bolsa Família ao desespero
Não são poucos os casos de pessoas que se encontram dentro do Bolsa família, e que precisam de ajuda para sair do vício em apostas esportivasImagine a situação de uma pessoa que nunca imaginou que perderia o controle da própria vida com algo que começa como uma simples curiosidade: uma aposta esportiva.
Agora imagine que essa mesma pessoa perdeu mais de R$ 5 mil em dívidas, além de ter que passar a ter o salário comprometido, pedir dinheiro emprestado com agiota e a usar indevidamente até mesmo o Bolsa Família da mãe.
Acredite, o exemplo acima é real, e é mais comum do que você possa imaginar. Não são poucos os casos de pessoas que sofrem com o vício em apostas esportivas.
Por que as apostas atraem tanto os usuários do Bolsa Família?
Segundo o Banco Central (BC), R$ 3 bilhões foram enviados para casas de apostas por beneficiários do Bolsa Família em apenas um mês (agosto de 2023).
Cerca de 5 milhões de pessoas usaram o Pix para apostar, sendo 4 milhões titulares diretos do programa.
O governo tenta encontrar formas de bloquear o uso do benefício em plataformas de apostas, mas admite que não há meios técnicos viáveis no momento. O valor, uma vez depositado, se mistura a outras rendas na conta do titular.
Um “crack digital”
Psiquiatras que lidam com transtornos do impulso já classificam o vício em bets como uma “nova pandemia invisível”.
A chegada das plataformas de apostas ao Brasil foi impulsionada pela lei sancionada em 2018, durante o governo Michel Temer. Desde então, os casos de dependência explodiram.
“O efeito no cérebro é comparável ao das anfetaminas”, explica Katia Valente, do Instituto de Psiquiatria da USP.
A maior parte dos apostadores online tem entre 16 e 24 anos. O acesso fácil e o apelo de “ficar rico do dia para a noite” afetam diretamente os mais jovens e vulneráveis.
Onde o usuário do Bolsa Família pode buscar ajuda
Se você é um dos mais de 20 milhões de usuários do Bolsa Família, e está viciado em apostas esportivas, saiba que não está sozinho. O primeiro passo você já deu: reconhecer que está com um problema.
Agoram, o segundo passo é procurar ajuda. A boa notícia é que existem vários canais gratuitos de atendimento que podem lhe ajudar neste momento. Veja abaixo alguns exemplos:
- UBS ou CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) mais próximos da sua casa
- Pro-Amiti, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (atende casos de dependência em jogos)
- CVV (Centro de Valorização da Vida) – atendimento gratuito e anônimo pelo telefone 188 (24h)
Você também pode procurar um postinho mais próximo do seu endereço, e perguntar qual é a melhor maneira de conseguir atendimento psicológico gratuito na sua cidade.