BC mira mudança no crédito imobiliário e quer reduzir domínio do FGTS
Plano propõe uso da poupança como principal fonte de financiamento habitacional, mas transição será lenta, admite GalípoloO presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, anunciou que a autarquia está estudando um novo modelo para o financiamento habitacional no país.
A proposta é que os recursos da poupança ganhem protagonismo, substituindo gradualmente o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que hoje responde pela maior parte dos empréstimos do setor.
Como funciona o uso do FGTS hoje
Em 2024, o crédito imobiliário no Brasil movimentou cerca de R$ 297 bilhões.
Deste total, 56% foram financiados com recursos do FGTS, a primeira vez, desde 2018, que o fundo superou a soma da poupança, das LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e das LIGs (Letras Imobiliárias Garantidas) como principal fonte de recursos para compra de imóveis.
Como funciona a nova proposta
Apesar da proposta, Galípolo reconheceu que a mudança será lenta. “Não vai ser do dia para a noite, vai ser um processo longo”, afirmou durante um evento promovido pela Frente Parlamentar Mista do Empreendedorismo e o Instituto Unidos Brasil.
A intenção, segundo o presidente do BC, é aproximar o modelo brasileiro de financiamento habitacional ao adotado por países emergentes.
Atualmente, o crédito imobiliário no Brasil sem o uso do FGTS representa apenas 6% do PIB. Para efeito de comparação:
- Chile: 30%
- Tailândia: 20%
- África do Sul: 18%
- México: 11%
“[Pretendemos] utilizar a poupança para auxiliar, financiar essa transição para um modelo novo que vai poder nos tornar mais parecidos com os nossos pares”, disse Galípolo.
Sobre o crédito
O presidente do Banco Central também defendeu maior acesso da população a linhas de crédito mais baratas e eficientes.
“Temos de tentar facilitar o acesso a essas linhas de crédito, que são adequadas para o problema das pessoas”, destacou.
Além do FGTS
Durante o evento, Galípolo também apontou a necessidade de o Banco Central aprimorar sua comunicação com a sociedade.
Segundo ele, a efetividade da política monetária está ligada à capacidade de o BC transmitir suas decisões de forma clara.
“A obrigação é do Banco Central de conseguir modular o seu discurso, conseguir amplificar e atingir uma camada maior da sociedade”, afirmou o presidente, ao criticar o uso de um “dialeto próprio” pela instituição.
Taxa de juros
Recentemente, o Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros para a casa dos 15%, uma das maiores da história do país. Ao mesmo passo, eles também sinalizaram que o ciclo de alta chegou ao fim.
Vale lembrar que Galípolo foi indicado pelo próprio governo do presidente Lula para comandar o Banco Central.