Brasileiros com salário acima de R$ 6 mil pagam mais imposto do que milionários, aponta estudo
Estudo do Sindifisco mostra que trabalhadores que ganham acima de R$ 6 mil pagam mais imposto de renda do que milionários no BrasilVocê já parou para pensar que, no Brasil, quem ganha um salário considerado de classe média pode pagar mais imposto que milionários? Pois é exatamente isso que um levantamento do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) revelou.
De acordo com o estudo, trabalhadores com renda mensal acima de R$ 6 mil tiveram, em 2024, uma carga de Imposto de Renda maior do que a de quem recebe milhões todos os meses. A contradição está nos mecanismos de isenção, que favorecem as faixas mais altas de rendimento.
Classe média é a mais penalizada no salário
Os dados analisados mostram que os brasileiros que recebem entre 5 e 7 salários mínimos (aproximadamente de R$ 6.600 a R$ 9.240) enfrentam alíquotas efetivas de até 6,63%.
Já para quem recebe entre R$ 19.800 e R$ 26.400, o peso do imposto chega ao ápice de 11,40%, mais que o dobro da taxa média paga pelos milionários.
Enquanto isso, os mais ricos conseguem manter suas alíquotas efetivas em apenas 5,28%, inferior à média das classes intermediárias.
Isenções favorecem os mais ricos
O levantamento do Sindifisco revela que quanto maior a renda declarada, maior também a fatia isenta de imposto. Entre os que recebem acima de R$ 316 mil mensais, cerca de 71% dos rendimentos ficam livres de tributação.
Já entre os trabalhadores de baixa renda, apenas 5% da renda costuma ser isenta. Essa distorção está ligada principalmente aos lucros e dividendos, que seguem sem cobrança de imposto no Brasil.
Lucros e dividendos: mais de R$ 700 bilhões isentos
Outro ponto destacado no estudo é o crescimento dos rendimentos classificados como lucros e dividendos.
Em 2023, esse tipo de ganho representou 35% do total da renda declarada, somando mais de R$ 700 bilhões. O valor foi 14% maior do que em 2022, quando chegou a R$ 614,9 bilhões.
Segundo o presidente do Sindifisco, Dão Real Pereira dos Santos, esse modelo incentiva a chamada “pejotização”, em que profissionais deixam de receber salários e passam a atuar como pessoa jurídica para pagar menos imposto.
Reforma tributária ainda é desafio
O estudo lembra que, após mais de 30 anos de debate, a reforma tributária começou a avançar no Congresso em 2023.
A primeira etapa, que trata da unificação de tributos sobre consumo, já foi aprovada, mas só deve entrar em vigor completamente em 2033.
A segunda fase, que envolve o imposto sobre a renda, segue em discussão. Entre os pontos em análise estão:
- Ampliação da faixa de isenção do IR para até R$ 5 mil;
- Criação de alíquota mínima para altas rendas;
- Tributação de lucros e dividendos.
Para o sindicato, só uma revisão ampla, que inclua a cobrança sobre lucros e dividendos, poderá reduzir o peso do imposto sobre os trabalhadores e equilibrar o sistema.