“1.569 filiações por hora?”: o escândalo bilionário que põe o INSS na mira da CGU
A cada dia que passa, novas indicações revelam a dimensão da fraude que atingiu milhares de aposentados do INSSUma associação conseguiu registrar mais de 1.500 filiações por hora para descontos em aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Em outro caso, uma entidade que tinha feito apenas uma filiação em maio, saltou para 187 mil em julho. Os números, que mais parecem saídos de um roteiro de ficção, são reais.
Os dados fazem parte de um novo relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre o INSS.
A auditoria revelou uma possível operação em massa de descontos fraudulentos nos contracheques de aposentados e pensionistas em todo o país.
O que a CGU descobriu
De acordo com informações da CGU, uma entidade em Pernambuco bateu recorde: a Associação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas da Nação (Abapen) conseguiu registrar 251.074 filiações apenas em abril de 2024, o equivalente a 1.569 por hora.
Esse único mês representou 78% de todas as filiações da Abapen no ano.
Uma outra entidade, a CBPA, fez só 1 filiação em maio de 2023, e 187.824 dois meses depois.
Ao todo, a CGU identificou 10 entidades com mais de 100 mil autorizações de desconto em seus meses de pico, entre 2023 e 2024.
O que os dados revelam sobre o INSS
Para a Controladoria, os dados levantam fortes indícios de fraude. Isso porque o padrão esperado seria um fluxo contínuo de filiações, e não picos abruptos que somam centenas de milhares de registros em poucos dias.
O relatório fala em “inserções em massa”, que não condizem com a capacidade operacional declarada pelas entidades.
Falta de estrutura e de respostas
A auditoria também escancarou uma possível fragilidade das entidades envolvidas. Das 29 entidades analisadas:
- 12 disseram ter mais de 10 funcionários;
- 9 têm até 10;
- 8 sequer responderam.
Mesmo com esse contingente enxuto, elas atuaram em todos os estados brasileiros, mas apenas 7 possuem mais de cinco filiais no país.
Em 60% dos casos analisados, as entidades não apresentaram documentação completa que comprovasse a autorização dos descontos feitos em nome dos beneficiários.
O que diz o INSS
O próprio INSS reconheceu à CGU, em 2023, que não tem competência técnica para verificar a veracidade dos documentos digitais que autorizam os descontos.
O órgão afirmou confiar na “boa fé” das associações, o que, segundo a CGU, abre brechas perigosas para abusos.
Somente em 2024, os descontos em aposentadorias e pensões somaram R$ 2,8 bilhões. A auditoria envolveu entidades que possuem acordos de cooperação com o governo, o que lhes permite aplicar descontos diretamente nos benefícios dos segurados do INSS.
O que dizem os envolvidos
A CBPA afirmou cumprir seu papel de oferecer benefícios aos associados e disse apoiar as investigações.
A Abapen foi procurada por diversos veículos de imprensa, mas ao menos até a publicação desta matéria, não havia se manifestado. Em caso de envio de resposta, o artigo será atualizado.