“Descontos misteriosos”: como falhas da Dataprev abriram caminho para fraudes em aposentadorias do INSS

Uma análise sobre as falhas na Dataprev podem ajudar a explicar o que aconteceu com as fraudes em aposentadorias do INSS
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Em meio a um cenário de falhas operacionais e vulnerabilidades persistentes, a Dataprev, empresa responsável pela tecnologia da informação da Previdência Social , se vê no centro de um escândalo que afeta diretamente milhões de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). 

Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado em junho de 2024, revelou que a fragilidade dos sistemas permitiu descontos indevidos nos benefícios, feitos por entidades associativas sem o consentimento dos segurados.

O documento expõe o seguinte problema: a Dataprev processava arquivos enviados por associações e sindicatos com valores a serem descontados, sem qualquer verificação prévia de autorização dos beneficiários. 

O resultado já é conhecido: uma avalanche de reclamações e perdas silenciosas nos contracheques de quem mais depende da estabilidade financeira.

O que deu errado na análise?

Abaixo, você pode conferir todos os principais pontos revelados pelo documento

  • Descontos sem permissão

Entidades enviavam listas à Dataprev com os nomes dos segurados e os valores a descontar. A checagem de autorização simplesmente não existia.

  • Reclamação como único alarme

O INSS só descobria os descontos irregulares se o aposentado reclamasse.

  • Crescimento explosivo de associações

A Ambec, por exemplo, saltou de 3 associados em 2021 para 600 mil em 2023, e uma arrecadação de R$ 90 milhões no ano.

  • Mais de R$ 1,5 bilhão em repasses

Em 2023, o total enviado a associações e sindicatos mais que triplicou em comparação a 2021.

  • Sistema vulnerável até 2024

Só em setembro daquele ano entrou no ar um sistema que exige autorização eletrônica e biométrica para descontos associativos.

Um histórico de falhas na Dataprev

Os problemas da Dataprev não se limitam aos descontos indevidos. Entre 2023 e 2024, a empresa protagonizou uma série de episódios que fragilizaram ainda mais a confiança no sistema:

Foram 1.466 horas de indisponibilidade entre agosto de 2023 e dezembro de 2024. Estamos falando de mais de dois meses fora do ar.

  • Em abril de 2024, falhas no sistema provocaram vazamentos de dados de beneficiários e travaram o acesso a aposentadorias.
  • Em maio de 2024, um erro técnico fez com que pareceres médicos fossem trocados por textos de teste no app Meu INSS.
  • Em julho de 2024, o sistema Suíbe travou e impediu a publicação do Boletim Estatístico da Previdência.
  • Em agosto, servidores e peritos ficaram sem acesso a sistemas essenciais por mais de 7 horas.

Denúncia e operação policial

A auditoria em questão foi solicitada pelo deputado Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE), em agosto de 2023, após denúncias de venda casada entre empréstimos consignados e filiação forçada a associações. 

O caso escalou e culminou, em abril de 2025, na operação “Sem Desconto”, que mirou fraudes em aposentadorias. O então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu demissão no mesmo dia.

O ministro Carlos Lupi (Previdência) saiu nove dias depois da realização da operação. 

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