Endividamento e inadimplência voltam a crescer, apesar do Desenrola
Juros altos, inflação e falta de educação financeira explicam a escalada das dívidasOs índices de endividamento e inadimplência dos brasileiros voltaram a subir nos últimos meses e a tendência é de continuidade, mesmo após o programa Desenrola, que atuou entre 2023 e 2024 para renegociação de dívidas.
O cenário é complexo e se deve a uma combinação de fatores como inflação, juros altos, a baixa qualidade do crédito disponível e a pouca educação financeira da população.
Expectativa e efeitos limitados de novos programas
Economistas preveem um maior comprometimento da renda com dívidas nos próximos meses, impulsionado pela manutenção dos juros em patamares elevados.
O programa Crédito do Trabalhador, que oferece crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada, deve ter um impacto limitado na redução da inadimplência.
As condições oferecidas, muitas vezes com juros altos, não têm sido tão vantajosas. Há dúvidas se o programa será, de fato, usado para substituir dívidas mais caras ou se apenas gerará mais endividamento, conforme aponta Gonzalez, da FGV.
Dados alarmantes de endividamento e atrasos
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), revela um aumento no número de famílias endividadas: de 76,7% em dezembro de 2024 para 77,6% em abril de 2025.
As famílias com dívidas em atraso também tiveram um aumento, atingindo 29,1% em abril, comparado a 28,6% em fevereiro de 2025. A proporção de famílias que não terão condições de pagar suas dívidas em atraso subiu de 12,2% em março para 12,4% em abril.
Dados do Banco Central reforçam esse quadro, mostrando que o comprometimento da renda do brasileiro com dívidas alcançou 27,2% em fevereiro, o nível mais alto desde julho de 2023, quando o programa Desenrola Brasil foi lançado.
Impacto e limites do Desenrola
O Desenrola Brasil, que operou entre julho de 2023 e maio de 2024, tinha como meta combater a crise de inadimplência pós-pandemia.
Antes da pandemia, em 2019, o índice de famílias inadimplentes era de 24%, mas em 2023 chegou a 30%. Após o lançamento do Desenrola, o índice recuou para 28,1% em fevereiro de 2024.
O programa permitiu que pessoas com dívidas em atraso renegociassem seus valores com descontos e parcelamentos. Segundo o governo federal, houve uma redução de 8,7% na inadimplência entre pessoas de baixa renda ou inscritas no CadÚnico.
No entanto, grande parte do alívio proporcionado pelo Desenrola foi rapidamente consumida por novas dívidas que se tornaram inadimplentes novamente.
Economistas apontam que o Desenrola foi um alívio financeiro temporário, mas não um programa estrutural para melhorar a qualidade do crédito ou atacar as causas profundas do endividamento.
Explicação para o superendividamento
O superendividamento do brasileiro é um problema multifacetado, com raízes em fatores econômicos e estruturais. A combinação de inflação e juros altos é um dos principais vilões, corroendo a já apertada renda das famílias.
Além dos desafios econômicos, a falta de educação financeira da população e a baixa qualidade dos produtos de crédito disponíveis no mercado também agravam significativamente a situação.
Sem conhecimento para gerir suas finanças e com opções de crédito muitas vezes desfavoráveis, o ciclo do endividamento tende a se perpetuar.