Salário mínimo consome 3,1% do PIB e pressiona INSS, aponta estudo
Estudo do BNDES revela o impacto fiscal da política de valorização do salário mínimo nos gastos da PrevidênciaA política de valorização do salário mínimo tem gerado efeitos expressivos nas contas públicas, segundo estudo conduzido por Fábio Giambiagi, economista do BNDES e especialista em Previdência Social.
De acordo com o levantamento, os benefícios previdenciários equivalentes a um salário mínimo passaram de 1,15% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1997 para 3,10% em 2024.
Esse aumento está diretamente ligado à política de reajustes reais do mínimo implementada nos governos Lula e Dilma, prática retomada no atual governo.
As despesas do INSS
O estudo “A Previdência Social no Brasil: tendências e desafios” indica que os gastos do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), que atende trabalhadores do setor privado, cresceram de 2,5% do PIB em 1988 para 7,99% em 2024.
Três fatores são apontados como os principais responsáveis:
- Crescimento econômico modesto;
- Regras anteriores à reforma de 2019, que permitiam aposentadorias precoces;
- Aumento real e sistemático do salário mínimo após o Plano Real.
Valorização do piso salarial teve peso
Nos governos Fernando Henrique, o aumento do salário mínimo era esporádico e motivado por pressões políticas.
Já nos governos petistas, adotou-se uma política contínua de valorização real. Apenas nas gestões de Michel Temer e Jair Bolsonaro os reajustes foram limitados à inflação.
Giambiagi destaca que o salário mínimo acumulou um crescimento real de 189% desde o final de 1994, superando a produtividade da economia. Como esse valor representa o piso dos benefícios previdenciários, o impacto fiscal foi considerável.
Em 2000, os benefícios de um salário mínimo correspondiam a 33% dos pagamentos totais do RGPS. Em 2023, a fatia chegou a 43%.
O impacto no teto do INSS
Outro efeito da valorização do salário mínimo foi a redução da proporção entre o teto do INSS e o piso previdenciário.
Nas reformas de 1998 e 2003, o teto era de 10 salários mínimos. Atualmente, o valor máximo de R$ 8.157,41 representa pouco mais de cinco salários mínimos.
Propostas para resolver suposta questão do salário mínimo
Giambiagi defende uma nova regra constitucional que vincule o salário mínimo apenas à inflação (INPC), com validade por dez anos.
Ele também sugere que os estados definam pisos salariais regionais, permitindo aumentos reais fora do âmbito federal
Outro ponto: envelhecimento da população
Leonardo Rolim, ex-presidente do INSS, ressaltou em entrevista ao jornal Valor Econômico que o envelhecimento populacional é o principal fator de crescimento dos gastos, embora a valorização do salário mínimo também pese.
Para ele, o piso atual já está adequado em termos internacionais, o que justificaria uma revisão das regras.
Rolim sugere:
- Desvincular o Benefício de Prestação Continuada (BPC) do salário mínimo
- Adotar uma política de reajuste com base no PIB per capita, reavaliada a cada 5 anos
O outro lado
Por outro lado, há quem defenda que a revisão dos gastos públicos não deva atingir a parte mais pobre da população, e sim os mais ricos, que teriam alguns benefícios.
Em entrevista no Congresso Nacional na última semana, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, defendeu que os mais pobres já foram vítimas de muitas reformas nos últimos anos, e que agora seria hora de mexer nos supersalários e nos benefícios concedidos para a parcela mais rica da sociedade.