Fraude invisível? Mais de 1 milhão de famílias declaram estar sozinhas para receber o Bolsa Família
Cruzamento de dados revela omissão de cônjuge em ao menos 1,4 milhão de casos; especialistas defendem ajustesUm levantamento realizado pela empresa DataBrasil, a pedido de veículos de imprensa, apontou um dado preocupante: ao menos 1,4 milhão de famílias no Brasil estariam omitindo a presença de um cônjuge para conseguir acesso ao Bolsa Família.
A estimativa surgiu a partir de um cruzamento entre registros do Ministério do Desenvolvimento Social e informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em dados coletados até março de 2025.
Segundo os analistas, esse número pode ser ainda maior, já que a estimativa considerou um cenário conservador, no qual todas as casas monoparentais do país estariam elegíveis ao programa.
Como funciona a fraude no Bolsa Família?
De acordo com o estudo muitas famílias escondem o vínculo conjugal quando a presença do cônjuge, que pode ter emprego formal ou outra fonte de renda, inviabilizaria o acesso ao benefício.
Em alguns casos, pai e mãe do mesmo núcleo familiar declaram viver separados ou até forjam endereços distintos para tentar receber o benefício em dobro.
O cadastro fraudulento ocorre porque o Bolsa Família é destinado a famílias com renda de até R$ 218 por pessoa, conforme a lei 14.601/2023.
O caso de Guaribas, no Piauí
Em Guaribas, no Piauí, os dados chamam atenção. Por lá, o Censo identificou 151 domicílios monoparentais na cidade.
Já no Bolsa Família, foram registradas 617 famílias nessa condição. Estamos falando, portanto, de um possível excesso de 466 famílias declaradas irregularmente.
Desafios na fiscalização
Para a professora Carla Beni, da FGV, o problema não invalida o programa, mas exige melhorias na fiscalização. Em entrevista o portal Poder 360, ela defendeu cautela nesse tipo de análise
“Se numa mesma casa duas pessoas recebem o benefício, isso é fraude por falta de fiscalização.”
A ausência de CEP em muitas áreas pobres dificulta o controle e o cruzamento de informações.
Segundo Beni, o caminho mais seguro seria reforçar o cruzamento de dados por CPF, o que permitiria identificar essas distorções.
Apesar dos casos de fraude, Carla Beni destaca que o Bolsa Família é fundamental para o equilíbrio da macroeconomia e a redução das desigualdades no país.
“Não podemos inviabilizar o programa por fraudes pontuais. O importante é aprimorar os processos para que o benefício chegue a quem realmente precisa.”
Bolsa Família
O Bolsa Família é o maior programa de transferência de renda do país. Atualmente, pouco mais de 20 milhões de pessoas estão aptas ao recebimento do benefício, de acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome.
Para fazer parte do Bolsa Família é preciso ter uma conta ativa e atualizada no sistema do Cadúnico do governo federal, e ter uma renda per capita de até R$ 218.