INSS detalha irregularidades que levaram à suspensão da Crefisa
Desde a falta de estrutura até a coação, supostas irregularidades levaram à paralisação do acordo da CrefisaO contrato da Crefisa com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para o pagamento de novos benefícios foi suspenso cautelarmente em agosto.
A decisão foi fundamentada em uma nota técnica do próprio INSS que aponta que a instituição financeira estaria usando sua posição como agente pagador para “alavancar seu negócio principal de crédito”.
A Crefisa havia ganhado 25 dos 26 lotes em um pregão de 2024, conferindo-lhe a responsabilidade pelo pagamento de aposentadorias, pensões e auxílio-doença. No entanto, o INSS identificou “reiterados descumprimentos a cláusulas contratuais”. A Crefisa, por sua vez, nega todas as alegações.
Irregularidades e estratégia comercial
O documento do INSS, obtido via Lei de Acesso à Informação, detalha uma série de irregularidades na prestação do serviço, começando pela infraestrutura deficiente:
- Espaços de atendimento pequenos e inadequados para o volume de beneficiários.
- Ausência de caixas eletrônicos, sistemas de triagem e senhas.
- Falta de um ambiente de espera “digno”, com assentos insuficientes, banheiros acessíveis e climatização adequada.
- Terminais inoperantes ou sem dinheiro.
- Tempo de espera excessivo.
A nota técnica argumenta que a discrepância entre as obrigações contratuais e a capacidade da rede da Crefisa cria uma “sobrecarga operacional inevitável”.
Essa sobrecarga se manifesta em “longas filas” e “precarização do atendimento”, estabelecendo um cenário propício para “práticas comerciais” que buscam compensar a baixa lucratividade do serviço de pagamento com a oferta agressiva de outros produtos financeiros.
Práticas questionáveis e falta de transparência
O INSS destaca como uma das práticas mais “graves e recorrentes” a antecipação do primeiro pagamento do benefício.
Segundo o instituto, funcionários estariam coagindo os segurados a contratar serviços, agilizando desbloqueios, o que pode configurar quebra do dever de sigilo e uso de informações privilegiadas para fins comerciais.
O órgão também manifesta preocupação com a falta de clareza e transparência na oferta de produtos, descrevendo a “indução à contratação de serviços indesejados”.
O INSS recebeu relatos de segurados que foram levados a assinar documentos em tablets ou papéis sem a devida leitura ou explicação, resultando na contratação de empréstimos consignados, cartões de crédito e seguros não solicitados.
O documento conclui que a “sistemática repetição” desses problemas indica que não se trata de “desvio de conduta de funcionários isolados”, mas de uma “estratégia comercial agressiva e institucionalizada”.
“A Crefisa descumpre de forma generalizada a obrigação de seguir rigorosamente todas as normas e orientações emanadas do INSS. A postura reativa e de negação sistemática diante das fiscalizações e notificações […] demonstram uma falha contumaz em aderir às diretrizes do contratante.”
Defesa da Crefisa
Em sua defesa, a Crefisa informou que apresentou defesa e recurso no processo administrativo em curso. A empresa alega que as reclamações usadas como base para a Nota Técnica são, em sua maioria, anteriores a 2024. E não refletem a realidade atual.
A Crefisa ressaltou, em nota, que, desde então, implementou “significativas melhorias” em sua estrutura de atendimento.
A empresa cita a ampliação e modernização das unidades, que agora contam com “ambientes mais espaçosos, confortáveis, climatizados e plenamente adequados” para atender os beneficiários do INSS com qualidade.