O Tribunal de Contas da União (TCU) acendeu um alerta após identificar movimentações suspeitas envolvendo beneficiários do Bolsa Família e empresas de apostas online. 

Segundo informações do Banco Central, bilhões de reais teriam sido transferidos, em apenas um mês, das contas de famílias atendidas pelo programa para plataformas conhecidas como “bets”.

O levantamento revelou que, em janeiro de 2025, cerca de R$ 3,7 bilhões saíram das contas de pessoas cadastradas no programa para operadoras de apostas. 

O relator do caso, ministro Jhonatan de Jesus, destacou que ainda não há como afirmar se o dinheiro usado veio exclusivamente do benefício, já que a maioria dos beneficiários possui outras fontes de renda.

Transferências levantam suspeitas

De acordo com o TCU, 83,93% dos titulares do Bolsa Família declararam ter rendimentos complementares, como empregos formais ou informais. 

As somas dessas rendas (R$ 13,73 bilhões) ficaram praticamente no mesmo patamar do total repassado pelo programa no mesmo período (R$ 13,70 bilhões).

Apesar disso, os auditores identificaram indícios de uso irregular de CPFs de beneficiários em esquemas de fraude e lavagem de dinheiro. Um dado chama atenção: apenas 4,4% das famílias apostadoras foram responsáveis por 80% de todas as transferências. 

Além disso, 21,9% dos beneficiários tiveram algum tipo de movimentação com empresas de apostas no mês analisado.

Esses números, segundo o relator, reforçam a suspeita de que terceiros podem estar utilizando os dados de beneficiários para ocultar ganhos ilícitos. 

As movimentações “extrapolam a problemática do jogo responsável”, afirmou o ministro, destacando a possibilidade de crimes financeiros.

Ações determinadas pelo TCU

Diante das irregularidades, o TCU determinou que o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social e o Banco Central apresentem, em até 90 dias, um plano de ação para identificar e coibir o uso indevido de CPFs no programa. 

A ideia é cruzar dados e monitorar movimentações bancárias anormais entre os beneficiários.

Além disso, os casos mais graves, envolvendo transferências atípicas e valores milionários, serão enviados ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), à Receita Federal e ao Ministério Público Federal, para que sejam tomadas medidas de investigação e punição.

As regras gerais do Bolsa Família

O Bolsa Família é um programa social do governo federal criado para garantir uma renda mínima às famílias em situação de vulnerabilidade econômica. 

O benefício é voltado principalmente a quem vive com renda mensal de até R$ 218 por pessoa, priorizando núcleos familiares com crianças, gestantes, adolescentes e lactantes. 

Além do repasse financeiro, o programa busca promover o acesso a serviços essenciais, como saúde, educação e assistência social, exigindo, por exemplo, que os filhos frequentem a escola e mantenham a vacinação em dia. Atualmente, milhões de famílias em todo o país dependem do Bolsa Família como principal fonte de sustento.