A mudança no Imposto de Renda que passa a valer em 2026 desencadeou um movimento intenso no setor corporativo brasileiro.
Com o risco de perder a isenção sobre dividendos, empresas de diversos segmentos estão antecipando a distribuição de lucros aos acionistas ainda em 2025, numa tentativa de evitar a nova tributação. Vale, Itaú e WEG já entraram na lista das companhias que decidiram agir rapidamente.
O ambiente é de urgência. Consultorias, auditorias e escritórios de advocacia relatam uma pressão semelhante aos dias que antecedem a entrega do IR das empresas.
As equipes têm trabalhado além do expediente, inclusive nos fins de semana, para orientar companhias sobre o melhor momento de declarar e aprovar os dividendos antes do fim do ano.
A corrida tem explicação clara: o Imposto de Renda sobre altas rendas, sancionado recentemente, inclui os dividendos entre os rendimentos tributáveis.
Como esses valores sempre foram isentos, o impacto é direto para quem recebe lucros de grandes empresas. E, por isso, muitas companhias já estudam até contrair empréstimos para garantir que seus acionistas não percam a isenção.
Dividendos já passam da casa dos bilhões
Um levantamento da XP Investimentos mostra que apenas entre o fim de outubro e a semana passada, os anúncios de distribuição de lucros somaram R$ 42,2 bilhões.
Com novas declarações feitas por Itausa, WEG e Ultrapar entre sexta-feira e ontem, esse total subiu para R$ 58,7 bilhões. A previsão é que o valor acumulado alcance R$ 85 bilhões até 31 de dezembro.
O tributarista Hermano Barbosa, do BMA Advogados, resume o cenário ao afirmar:
“A nova lei obriga as companhias a declararem e aprovarem dividendos antes do ano terminar. É algo que impõe desafios. Muitas empresas têm reservas de lucros porque decidiram reter parte de seus ganhos”. Ele explica ainda que a regra tem levado empresas a “declarar a máxima quantidade de lucros possível em 2025”.
O que muda no Imposto de Renda em 2026
A reforma do IRPF, aprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estabeleceu uma taxa mínima para contribuintes que recebem a partir de R$ 50 mil por mês.
Para compensar a isenção total para quem ganha até R$ 5 mil e a redução na tributação até R$ 7.350, os dividendos passaram a ser incluídos na base tributável. Assim, quem recebe lucros de empresas poderá ser diretamente afetado pelo novo Imposto de Renda.
A cobrança começa em 1º de janeiro, mas uma exceção mantém o mercado corporativo em alerta: os dividendos anunciados até 31 de dezembro continuam livres da nova taxação e poderão ser pagos entre 2026 e 2028.
Hoje, empresas têm até 120 dias após o fim do exercício fiscal para anunciar a distribuição e mais 60 dias para fazer o pagamento.