Bolsa Família reduz riscos de consumo de álcool, segundo pesquisa
Essa diferença em relação a indivíduos que não são beneficiários cresce para 26% quando se trata do consumo de álcoolUma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz revela que os participantes do Programa Bolsa Família apresentam uma redução de 17% no risco de hospitalização devido a transtornos relacionados ao uso de drogas psicoativas.
Essa diferença em relação a indivíduos que não são beneficiários cresce para 26% quando se trata do consumo de álcool.
O estudo, publicado na revista The Lancet Global Health, analisou dados não individualizados do Cadastro Único e do Sistema de Informações Hospitalares de mais de 35 milhões de brasileiros no período de 2008 a 2015.
Os pesquisadores também utilizaram um índice para avaliar o nível de privação material e constataram que o programa teve um efeito positivo em todas as categorias. Na faixa com maior privação, o risco de internação foi 41% inferior entre aqueles que recebiam o benefício.
Lidiane Toledo, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo, explica que a relação entre ser beneficiário do Bolsa Família e a diminuição do risco de internação pode estar ligada à redução do estresse financeiro e ao melhor acesso a serviços de saúde e educação, em função das condicionalidades do programa.
Ela acrescenta que a falta de recursos e a incerteza financeira são estressores que podem prejudicar a qualidade de vida e a saúde mental, resultando no uso abusivo de substâncias psicoativas.
Ademais, as famílias atendidas pelo programa são obrigadas a cumprir com cuidados básicos de saúde, como vacinação infantil e pré-natal, o que as aproxima de unidades de saúde, fundamentais para tratar esses problemas.
Uma das condições para obter o benefício é que as crianças e adolescentes mantenham uma frequência escolar mínima, e os pesquisadores sugerem que isso também pode ter uma contribuição positiva.
“Essa hipótese se baseia no fato de que a baixa escolaridade, uma das medidas de status socioeconômico reduzido, é um fator de risco bem documentado para os transtornos por uso de substância, além de que pessoas que fazem uso de substâncias frequentemente enfrentam barreiras no acesso aos serviços de saúde”, diz o artigo.
Conforme a pesquisadora Lidiane Toledo, os resultados do estudo evidenciam que a assistência financeira é crucial para as pessoas que convivem com transtornos mentais relacionados ao uso de substâncias, especialmente aquelas em condição de pobreza ou extrema pobreza.
“A recomendação é que profissionais da Atenção Primária e dos Centros de Atenção Psicossocial considerem encaminhar pessoas vivendo com transtornos por uso de substâncias e que estão em situação de vulnerabilidade social para programas de proteção social, como o Bolsa Família”, enfatiza.