A situação financeira dos Correios entrou em um ponto crítico e já gera preocupação direta entre os funcionários da estatal. Sem um socorro imediato do governo federal, cresce o risco de a empresa não conseguir cumprir compromissos básicos, como o pagamento do 13º salário.
A apreensão se intensifica porque o pedido de um aporte emergencial de R$ 6 bilhões ainda não foi concretizado.
Enquanto isso, o governo tenta viabilizar um empréstimo de R$ 20 bilhões junto a instituições financeiras para reequilibrar as contas da empresa, que acumula um prejuízo recorde de R$ 6,1 bilhões apenas até setembro deste ano.
O temor é que, sem uma solução rápida, o calendário avance sem que os recursos cheguem a tempo, deixando os trabalhadores em alerta às vésperas do fim do ano.
Funcionários temem atraso no 13º salário
O presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP), Roberval Borges Corrêa, avalia que o aporte pode ser liberado até o limite de 20 de dezembro, mas alerta para o risco real caso isso não aconteça.
“Sem esse aporte, não há garantia nem de pagamento do 13.º e outros compromissos”, afirmou, cobrando uma posição do Executivo. “É uma situação inédita e nós esperamos que o governo assuma sua responsabilidade, porque ele é o responsável pela manutenção do serviço universal e é o único acionista da empresa.”
Segundo Corrêa, historicamente, os Correios nunca receberam recursos diretos da União para manter o serviço universal, mesmo arcando com custos elevados para garantir atendimento em todo o país.
Governo admite dificuldade e aposta em duas frentes
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo trabalha simultaneamente na possibilidade de aporte e na liberação do empréstimo.
Ele destacou que o socorro direto pode se tornar necessário caso não haja acordo com os bancos que participariam do financiamento.
“Um caminho é o aporte, que pode se tornar necessário se nós não chegarmos a um acordo com o pool de bancos que vai financiar a reestruturação da companhia”, disse. “Não vamos ficar com a faca no pescoço por conta da incompreensão da parte de uma ou outra instituição financeira.”
Haddad descartou alternativas fora do arcabouço fiscal ou o uso de crédito extraordinário, o que limita a velocidade para liberação de recursos e aumenta a pressão sobre o calendário.
Empréstimo aos Correios
Técnicos da Fazenda avaliam que a liberação de um aporte dentro das regras fiscais exigiria a publicação de um novo Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas, processo que levaria ao menos dez dias. Como o ano legislativo está próximo do fim, não haveria tempo hábil.
Diante disso, o empréstimo passa a ser visto como a única opção viável para que os Correios consigam pagar o 13º salário e demais obrigações ainda em 2024. No entanto, as negociações enfrentam entraves.
Mesmo com aval do Tesouro, bancos como Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e Safra apresentaram taxas consideradas elevadas, próximas de 136% do CDI, o equivalente a cerca de 20% ao ano. A tentativa de envolver a Caixa Econômica Federal também não avançou, sob justificativa de risco operacional da empresa.