Apagão no INSS: governo suspende bônus e fila de benefícios deve crescer

O INSS vive um momento de apagão orçamentário e decidiu suspender o Programa de Gerenciamento de Benefício (PGB), responsável por pagar bônus a servidores que analisam pedidos de aposentadorias, pensões e outros benefícios. 

A medida ameaça o andamento das análises e pode ampliar a já longa fila de espera dos segurados.

O anúncio foi feito pelo presidente do Instituto, Gilberto Waller Junior, em ofício enviado ao Ministério da Previdência Social nesta quarta-feira (15). A partir de agora, o programa fica oficialmente suspenso.

Fila de mais de 2,6 milhões de pedidos 

O documento informa que nenhum novo pedido será incluído na chamada “fila extraordinária”, e as tarefas que estavam em andamento deverão ser interrompidas.

Segundo dados de agosto, o INSS tem mais de 2,6 milhões de benefícios pendentes, número que tende a crescer com a paralisação do programa.

Além do PGB, os agendamentos extras do serviço social também foram interrompidos. A decisão afeta diretamente o atendimento a beneficiários do BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a idosos acima de 65 anos e pessoas com deficiência de baixa renda.

Como há análise social obrigatória nesses casos, a suspensão impacta a concessão do benefício.

“Todas as tarefas pendentes deverão ser retiradas das filas do PGB e devolvidas às filas ordinárias”, afirma o texto do ofício.

Crise pode afetar atendimento nas agências 

O documento também orienta que os agendamentos futuros do serviço social fora da jornada de trabalho dos servidores sejam remanejados para horários normais, com ajustes ou suspensões conforme necessário.

Fontes internas admitem que, se a situação orçamentária piorar, pode haver redução do atendimento presencial em agências para cortar gastos.

Segundo Waller Junior, a medida tem caráter preventivo e busca “preservar a integridade do PGB”, evitando problemas administrativos decorrentes da continuidade das atividades sem a devida recomposição orçamentária.

Servidores foram pegos de surpresa

De acordo com Tiago Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Seguro Social e Previdência Social (SINSSP-BR), os servidores receberam a notícia com espanto.

Ele acredita que a fila do INSS deve aumentar ainda mais sem o incentivo financeiro.

“Se com o bônus não conseguimos acabar com a fila, sem ele, certamente vai aumentar”, afirmou.

O sindicalista destaca também que a falta de funcionários agrava o problema: hoje o instituto conta com cerca de 19 mil servidores administrativos, metade do número existente há sete anos.
Para ele, a solução passa pela reestruturação das carreiras de técnico e analista, além da modernização tecnológica do sistema.

Como funcionava o bônus do INSS

O Programa de Gerenciamento de Benefício foi retomado por meio da Medida Provisória 1.296, depois transformada em lei, com o objetivo de aumentar a produtividade dos servidores.

Os participantes recebiam R$ 68 por tarefa extra, podendo somar até R$ 17,7 mil a mais por mês, desde que cumprissem as metas obrigatórias da carreira.

Servidores que não atingiam essas metas não recebiam o bônus. Tiago Silva informou ainda que o sindicato deve procurar o INSS para discutir o pagamento das atividades já realizadas nos primeiros dias de outubro.

Problemas no orçamento já vinham de antes

A crise orçamentária não é novidade. No primeiro trimestre de 2025, técnicos da Comissão Mista de Orçamento (CMO) já alertavam que seriam necessários R$ 20 bilhões adicionais apenas para cobrir despesas da Previdência.

O Orçamento de 2025 previa R$ 1,007 trilhão para o pagamento de benefícios, mas o valor deve chegar a R$ 1,032 trilhão, segundo estimativas.

Em agosto, o INSS concedeu 579 mil novos benefícios e negou 568 mil, com tempo médio de concessão de 42 dias.