O escândalo que envolve o INSS ganhou mais um capítulo tenso nas últimas semanas. A possível delação de um empresário apontado como peça central do esquema bilionário chegou a ser discutida, mas as negociações não evoluíram.
A simples chance de um acordo gerou apreensão em Brasília, especialmente entre parlamentares que temem impactos políticos a poucos meses das eleições.
O caso, que já havia provocado desgaste dentro do governo e acendido alertas na Polícia Federal, continua avançando com detalhes que mostram a dimensão do esquema ligado ao INSS.
Negociação travada e pressão política
Segundo a Polícia Federal, Maurício Camisotti tentou firmar colaboração premiada recentemente. Ele é considerado um dos principais beneficiários das fraudes e visto como sócio oculto de entidades envolvidas nos descontos irregulares em aposentadorias.
Apesar disso, a PF não avançou com o acordo porque, até agora, ele não teria apresentado elementos novos nem mostrado disposição para devolver os valores recebidos ilegalmente — pontos essenciais para uma redução de pena.
Dentro da política, apenas a possibilidade de delação já provocou tensão. Parlamentares temem ser mencionados no caso, que envolve cifras bilionárias e tem repercussão nacional.
Figura-chave do esquema permanece presa
Camisotti está detido desde setembro junto com Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do INSS”. Ambos são apontados como lideranças do esquema de desvio de recursos das aposentadorias.
Informações obtidas pela PF indicam que o empresário comandava três entidades que arrecadaram mais de R$ 1 bilhão com cobranças ilegais, tendo recebido cerca de R$ 43 milhões desse total.
A investigação aponta que o desvio total pode ter alcançado R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, um dos maiores rombos relacionados ao INSS e que desencadeou forte crise política no governo Lula.
Decisão do STF e suspeitas financeiras
A prisão de Camisotti foi determinada pelo ministro André Mendonça após alertas da PF sobre o risco de fuga e sua capacidade de movimentar grandes quantias. A Segunda Turma do STF manteve a decisão por unanimidade.
Relatórios do Coaf trouxeram mais desconfiança ao revelar que o empresário realizou 17 saques em dinheiro vivo que somam R$ 7,2 milhões entre 2018 e 2025. Para os investigadores, isso indica tentativas de ocultação de patrimônio e possíveis manobras para dificultar o rastreamento dos valores.
Camisotti segue investigado por lavagem de dinheiro, ocultação de bens e participação em organização criminosa.
CPI do INSS e posicionamento da defesa
A CPI do INSS já aprovou pedidos para quebra de sigilo fiscal e bancário do empresário, além da convocação para depoimento. O interrogatório ainda não foi marcado.
Procurada, a defesa afirma que Camisotti não participou de desvios e nega que exista negociação de delação. Já a Polícia Federal mantém os dados apresentados até aqui.