Deputado do PDT é citado em e-mail de ex-presidente do INSS sobre reunião com entidade investigada

E-mail de ex-presidente do INSS revela pedido de reunião de deputado do PDT com entidade investigada por fraudes. Parlamentar nega envolvimento
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Deputado do PDT é citado em e-mail de ex-presidente do INSS sobre reunião com entidade investigada
Foto: Reprodução
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Um e-mail corporativo do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, revelou um pedido de reunião feito pelo deputado federal André Figueiredo (PDT-CE) para representantes da Ambec, entidade atualmente investigada por supostas fraudes em descontos sobre aposentadorias.

A mensagem, datada de 11 de abril de 2024, traz como assunto: “Reunião com o Deputado André Figueiredo (PDT/CE), Pauta: apresentação da entidade Ambec”. Segundo o conteúdo analisado pela reportagem, o encontro teria sido solicitado quando Figueiredo ainda presidia o PDT, mesmo partido do então ministro da Previdência, Carlos Lupi.

Ambec já era investigada na época

Naquele período, a Ambec já havia sido citada em reportagens que expuseram a chamada “Farra do INSS”. Dados da Controladoria-Geral da União (CGU) indicam que a entidade movimentou R$ 453 milhões em mensalidades cobradas irregularmente de aposentados.

Apesar da citação no e-mail, a assessoria do deputado apresentou provas de que ele estava em Fortaleza (CE) no mesmo dia, participando de um evento onde recebeu uma honraria. 

Em nota, o parlamentar afirmou que não tinha conhecimento de qualquer irregularidade e que apenas atendeu a um pedido institucional para apresentar a nova diretoria da entidade.

“O deputado André Figueiredo recebe diariamente inúmeros pedidos de reunião de entidades, cidadãos e representantes de diversos setores. À época, o gabinete foi informado apenas que a Ambec pretendia apresentar sua nova diretoria. Todo o contato foi realizado de forma institucional e transparente com o INSS”, diz o comunicado.

A nota ainda ressalta que, se soubesse de qualquer irregularidade, o deputado não teria feito o encaminhamento.

Escândalo do INSS

Quinze dias antes do envio do e-mail, o portal Metrópoles havia publicado reportagem mostrando que 29 entidades arrecadaram juntas cerca de R$ 2 bilhões em apenas um ano. 

A Ambec aparecia entre as que mais cresceram, com 600 mil filiados e faturamento mensal de R$ 30 milhões.

Figueiredo assumiu o comando nacional do PDT em 2023, após Lupi deixar o posto para assumir o Ministério da Previdência no governo Lula. Durante a CPMI do INSS, o deputado chegou a defender o ex-ministro, chamando-o de “amigo” e afirmando que ele não tem o “defeito da desonestidade”.

Operação Sem Desconto

Alessandro Stefanutto deixou o comando do INSS logo após a Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em abril de 2025. A ação investigou o esquema de descontos fraudulentos que teria movimentado R$ 6,3 bilhões.

Na sequência, Carlos Lupi foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma tentativa de afastar o escândalo do núcleo do governo.

A Ambec

A Ambec firmou um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS em 2021 e afirmava oferecer 11 tipos de serviços, entre eles plano odontológico, orientação jurídica e auxílio funeral. Nenhum deles, segundo a CGU, foi efetivamente prestado.

Ainda conforme a investigação, os valores recebidos configurariam vantagem indevida. A entidade tinha entre seus diretores funcionários e parentes de executivos ligados ao empresário Maurício Camisotti, preso pela PF junto com o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS.

A defesa de Camisotti sustenta que sua prisão foi injustificada. Já Antunes negou qualquer pagamento de propina, alegando que todos os repasses ocorreram dentro da legalidade.

Em depoimento à CPMI, Stefanutto admitiu a possibilidade de concessão irregular de benefícios por entidades, mas afirmou ter criado mecanismos de controle, como biometria e assinatura digital, para tentar coibir fraudes.