Sem reforma, gastos com Previdência e BPC vão subir R$ 600 bi até 2040
Estudo alerta que 'bomba fiscal' precisará de medidas que vão além da revisão de gastos para ser desarmadaO Brasil se aproxima de um precipício fiscal. Sem uma nova reforma da Previdência Social ou ajustes nas regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC), os gastos do INSS podem saltar R$ 600 bilhões até 2040.
Esse aumento representa um acréscimo de cerca de 50% em relação ao custo atual, que já beira R$ 1,15 trilhão.
Os dados alarmantes vêm de um estudo recente do Centro de Liderança Pública (CLP), que detalha os impactos do rápido envelhecimento da população brasileira nas contas públicas.
A projeção leva em conta a tendência de desequilíbrio gerada pela queda da taxa de natalidade nas últimas décadas.
Envelhecimento da população
Com mais idosos vivendo por mais tempo e menos jovens entrando no mercado de trabalho, o estudo do CLP alerta para uma verdadeira “bomba fiscal”. Para desarmá-la, serão necessárias medidas complementares que vão além da simples revisão de gastos.
O cenário demográfico impõe mais despesas com saúde e previdência. No entanto, ele também oferece uma “rara válvula de escape” na área da educação.
Diante da expectativa de uma queda de cerca de 20% no número de alunos até 2040, o país poderia redirecionar investimentos para qualificar os jovens, diminuindo o total de repasses, mas aumentando a verba proporcional por estudante.
Para aproveitar essa oportunidade, o CLP sugere afrouxar as vinculações constitucionais de investimento mínimo em educação e condicionar novos recursos à aprendizagem.
Previdência e BPC
Mesmo após a Reforma da Previdência de 2019, o gasto com aposentadorias e BPC continua sendo o maior vilão do Orçamento público.
O envelhecimento populacional, reajustes acima da inflação e a baixa contribuição de algumas categorias criam uma combinação explosiva que gera um crescimento acima do limite de gastos do arcabouço fiscal, pressionando outras despesas.
O BPC é um benefício assistencial no valor de um salário mínimo, pago a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda que não atingiram o tempo mínimo de contribuição para a Previdência.
Embora o governo tenha adotado algumas medidas para conter a expansão desses benefícios, como a compatibilização da atualização do salário mínimo à regra do arcabouço fiscal (que permite aumento real entre 0,6% e 2,5% ao ano) e ações administrativas para coibir concessões indevidas, economistas as consideram insuficientes.
As despesas obrigatórias continuam a comprimir o espaço para investimentos em outras áreas. Estimativas oficiais já indicam que o governo pode não conseguir cumprir o piso constitucional de Educação e Saúde já em 2027.
Medidas essenciais para o equilíbrio fiscal
Para o Governo, a situação exige a revisão frequente dos parâmetros previdenciários. Incluindo o aumento da idade mínima (atualmente em 65 anos), a regra de cálculo e o tempo de contribuição.
Além disso, é importante buscar um maior equilíbrio entre os benefícios contributivos (Previdência) e o BPC (assistencial), sugerindo que a aposentadoria rural deveria ser considerada um benefício assistencial.
Uma medida adicional é a desvinculação do salário mínimo que remunera os trabalhadores ativos do piso pago a aposentados e pensionistas.
Na saúde, o gasto público brasileiro (4,2% do PIB) está abaixo da média mundial (75% do total do consumo, na média da OCDE) e precisaria subir para 7,5% do PIB em 2040 para acompanhar o crescimento da população idosa.
Por outro lado, as despesas com educação poderiam cair de 4,7% para 3,9% do PIB. Mesmo mantendo o gasto por aluno constante, devido à queda estimada no total de crianças e adolescentes (0 a 17 anos).
Apesar disso, a complementação federal para o Fundeb tem aumentado, passando de 10% em 2021 para uma expectativa de 23% no próximo ano.
Atualmente, o governo federal tem obrigação de investir 15% da receita corrente líquida em saúde e 18% em educação. Assim, nos municípios, o aporte mínimo em educação é de 25% da receita de impostos, incluindo transferências.