“Mão de Deus”: investigado na Farra do INSS celebrou ganhos em culto evangélico
Empresário investigado na Farra do INSS celebrou supostos ganhos em culto evangélico, relatando aumento de receita após pagar dízimoEm um culto religioso realizado na Grande São Paulo, o empresário Felipe Macedo Gomes, hoje alvo da Polícia Federal por envolvimento na chamada Farra do INSS, compartilhou um testemunho sobre sua trajetória.
Diante de fiéis e dos sócios Américo Monte e Anderson Cordeiro, ele afirmou que sua prosperidade nos negócios veio após começar a pagar o dízimo.
Segundo Gomes, a virada teria ocorrido em setembro de 2022, justamente quando a empresa Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB), da qual era presidente, firmou acordo com o INSS para realizar descontos em aposentadorias. O contrato se transformou em uma mina de ouro nos meses seguintes.
Culto e declarações polêmicas
No púlpito da igreja Sete Church, em Alphaville, Felipe relatou que enfrentava dificuldades financeiras, mas decidiu seguir a recomendação da cunhada e destinar parte dos ganhos ao dízimo.
Dois meses depois, disse ter visto “a mão de Deus”, quando suas receitas aumentaram 25%.
Durante o evento, destacou que mantinha orações constantes com seus sócios, Américo Monte e Anderson Cordeiro, também ligados às entidades investigadas. Ele declarou ainda que o dízimo, que no início era “pequeno”, havia se multiplicado em 40 vezes com o passar dos anos.
Escândalo do INSS
As investigações que deram origem à Operação Sem Desconto tiveram início após reportagens do portal Metrópoles, publicadas em 2023.
O escândalo, conhecido como Farra do INSS, derrubou o então presidente do órgão, Alessandro Stefanutto, e o ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Dados da Controladoria-Geral da União (CGU) apontam que a Amar Brasil movimentou R$ 143,2 milhões em descontos sobre benefícios de aposentados entre 2022 e junho de 2024.
Apenas no primeiro ano de contrato, a arrecadação foi de pouco mais de R$ 1 milhão, valor que disparou nos anos seguintes.
Sócios em meio à fé
Felipe também mencionou que ele, Cordeiro e Monte realizavam orações noturnas no escritório, pedindo direção espiritual para os negócios.
O trio, que hoje responde a investigações da PF, chegou a comandar quatro entidades ligadas ao esquema.
Como revelou o Metrópoles, eles também mantinham sociedade com Igor Delecrode, dono de uma empresa usada para fraudar a biometria de aposentados e viabilizar descontos indevidos.
Todos ostentavam vida de luxo com o dinheiro obtido nos contratos.
A reportagem procurou os envolvidos, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.
Farra do INSS
As fraudes no INSS se tornaram alvo não apenas da Polícia Federal, mas também da CPMI da Previdência, criada para apurar o alcance dos prejuízos causados aos aposentados.
O esquema, batizado popularmente de Farra do INSS, envolve contratos firmados com entidades que realizavam descontos sem autorização dos beneficiários. O impacto financeiro é bilionário e deixou milhares de idosos lesados em todo o país.
A investigação busca identificar os responsáveis, rastrear o caminho do dinheiro e recuperar os valores desviados, enquanto parlamentares pressionam por mais transparência e rigor no controle dos acordos firmados pelo instituto.