Muita gente acreditou que o fisiculturista Ramon Dino teria grande parte do prêmio do Mr. Olympia tomada pelo governo brasileiro. A polêmica ganhou força nas redes sociais e alimentou a indignação de quem já reclama do peso do imposto no país. Mas a história não aconteceu da forma que foi divulgada.
O valor realmente sofreu retenção, porém o imposto foi cobrado nos Estados Unidos, país onde o atleta recebeu a premiação. Diferente do que sugeriram algumas publicações, não se trata de uma nova decisão da Fazenda ou de Fernando Haddad.
Publicação gerou desinformação sobre o imposto
Uma postagem viral mostrou fotos do ministro Fernando Haddad ao lado de Ramon Dino, afirmando que o governo brasileiro cobraria 27,5% de imposto sobre os cerca de R$ 550 mil do prêmio.
A mensagem indicava que esse seria “o tratamento do Estado aos seus atletas”. O conteúdo parte de um dado existente, a alíquota máxima do Imposto de Renda, mas cria uma falsa relação com o caso específico.
A regra usada como argumento não é nova. Ela existe desde 1998 e faz parte da legislação do imposto no Brasil. Ou seja: não há qualquer mudança recente, nem decisão tomada pelo atual governo.
Imposto foi retido nos EUA
Como o campeonato ocorreu em solo americano, o valor é tributado diretamente na fonte, conforme as normas dos Estados Unidos.
O IRS, equivalente à Receita Federal, aplica retenção de 30% em pagamentos feitos a artistas e atletas estrangeiros. Por isso, a cobrança ocorreu antes mesmo de o valor ser repassado ao brasileiro.
Tributação pode ser compensada no Brasil
A Receita Federal explica que, nesse tipo de situação, o imposto pago no exterior pode ser compensado no Brasil, limitado ao valor que seria cobrado aqui (27,5%).
Isso significa que, como a alíquota americana é maior, o atleta não terá imposto adicional a pagar no país, desde que apresente os comprovantes.
Em nota, a Receita ressaltou que não cabe ao órgão definir quem paga imposto, já que as regras são estabelecidas por lei. O Ministério da Fazenda também afirmou que nenhuma tabela foi alterada na atual gestão.
Valorização teve viés ideológico
A publicação foi feita pelo Instituto Mises Brasil, que possui forte posicionamento contrário ao Estado e à tributação. O post, publicado em 14 de outubro de 2025, ultrapassou 3,2 milhões de visualizações e reforçou críticas à carga tributária ao associar o imposto ao governo federal.
O conteúdo utilizou descontextualização e linguagem emocional para sugerir que o Brasil teria “punido” o atleta, estimulando reações de indignação sem explicar o funcionamento real do imposto em casos internacionais.
Especialista confirma regra aplicada
O advogado tributarista Carlos Eduardo Navarro afirmou que rendimentos recebidos no exterior são tributáveis no Brasil, mesmo quando o imposto já foi recolhido lá fora. No entanto, a legislação prevê a compensação, o que se aplica exatamente ao caso de Ramon Dino.
