As novas regras para o saque-aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) provocaram um impacto imediato e profundo no mercado de crédito brasileiro.
Segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) no último dia 26, o endurecimento das condições para a antecipação do benefício causou uma retração de 31% nas concessões de crédito pessoal não consignado em novembro.
A mudança não afetou apenas o volume de dinheiro em circulação, mas também o custo do crédito. No mesmo período, a taxa média de juros para essa modalidade subiu 5,5%, reflexo direto da escassez de uma linha que era considerada uma das mais baratas do sistema financeiro.
O “efeito substituição” nos juros
De acordo com Renato Baldini, chefe-adjunto do Departamento de Estatísticas do Banco Central, a alta nos juros médios não significa, necessariamente, que os bancos aumentaram suas taxas de forma generalizada.
O fenômeno é estatístico: como a modalidade atrelada ao FGTS — que possui juros baixos por ter garantia real — perdeu espaço, o mercado passou a ser dominado por linhas de crédito mais caras.
Impacto para o consumidor
O cenário atual apresenta um desafio adicional para as famílias brasileiras. Em um ambiente de Selic elevada e maior rigor dos bancos na concessão de empréstimos, o saque-aniversário funcionava como uma “válvula de escape” para crédito de baixo custo.
Os principais reflexos observados pelo BC são:
- Menos dinheiro na mão: A queda de 31% nas concessões mostra que o consumidor está encontrando mais barreiras para acessar recursos.
- Custo maior: Sem o FGTS como garantia, o tomador de crédito acaba empurrado para modalidades como o crédito pessoal comum, onde os juros são significativamente mais altos.
- Sensibilidade regulatória: O episódio demonstra como decisões do Conselho Curador do FGTS podem alterar a dinâmica bancária de forma mais rápida do que a própria política monetária.
Perspectivas
Analistas do mercado financeiro agora monitoram se essa demanda reprimida migrará para outras linhas de crédito ou se haverá uma retração persistente no consumo.
O BC reforça que alterações regulatórias em fundos públicos têm papel central na definição do preço final do crédito para as famílias brasileiras.