O anúncio do salário-mínimo para 2026, fixado em R$ 1.621,00, reacende um debate crônico na economia brasileira: a dualidade dos reajustes previdenciários.
Embora o novo valor represente um avanço na política de valorização do poder de compra das camadas mais baixas, ele também evidencia o fenômeno do “achatamento” para quem recebe acima do piso nacional.
Dualidade dos Índices
A sistemática de cálculo atual utiliza uma métrica de dois caminhos. De um lado, o salário-mínimo é corrigido pela combinação da inflação (INPC) com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores.
Essa fórmula garante o chamado “ganho real”, permitindo que o consumo das famílias que recebem o piso acompanhe o ritmo da economia nacional.
Do outro lado, os benefícios que excedem o valor mínimo — o grupo que compõe a classe média dos aposentados — são reajustados estritamente pela variação do INPC. O resultado é uma erosão gradual da hierarquia salarial na previdência.
O fenômeno do achatamento
Economicamente, essa política gera o que especialistas chamam de “convergência ao piso”. Um segurado que, ao se aposentar, recebia o equivalente a quatro salários-mínimos, percebe que, após uma década, seu benefício foi reduzido a pouco mais de dois salários em termos relativos.
Embora a Constituição Federal garanta a preservação do “valor real” dos benefícios, na prática, o custo de vida específico da terceira idade — fortemente impactado por medicamentos e planos de saúde — tende a subir acima dos índices gerais de inflação.
Defesa do patrimônio previdenciário
Diante da ausência de ganho real por vias legislativas para quem ganha acima do mínimo, a gestão do patrimônio previdenciário passa a exigir um olhar mais técnico do segurado. A defasagem anual tem levado um número crescente de brasileiros a buscar a revisão da concessão.
Muitas vezes, a solução para a perda do poder de compra não reside no reajuste governamental, mas na correção de falhas históricas: a não inclusão de tempos de trabalho rural, períodos de atividade especial (insalubridade) ou erros de cálculo no período básico de cálculo (PBC).
Em um cenário onde o teto e o piso se aproximam a cada ano, a conferência do cálculo inicial deixa de ser um detalhe burocrático para se tornar uma estratégia de sobrevivência financeira.